Murros na Alma
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Quando a agressão psicológica é repetitiva transforma-se em dano!
Transcrevo abaixo um texto muito elucidativo, elaborado por Juliana Paim, psicóloga da Casa Abrigo, onde é descrito o perfil de um abusador/agressor típico:
Perfil do agressor (físico ou psicológico):
“· Um agressor que tem como alvo mulheres, não as vê como pessoas e não as respeita como um grupo. De um modo geral, só vê as mulheres como uma propriedade ou como objeto sexual. Acredita, mesmo quando não assume, na supremacia masculina e no papel estereotipado dos géneros.
· Um agressor tem baixa auto-estima e sente-se impotente e ineficaz no mundo. Ele pode aparentar ser um vencedor, mas interiormente sentir-se derrotado. Esforça-se sempre para parecer o “macho perfeito” e reage mal a tudo o que lhe pareça uma ameaça à sua imagem.
· Um agressor tem dificuldade em confiar nos outros e teme perder o controle. Por vezes isola-se socialmente e não demonstra outros sentimentos senão os de raiva. Vive normalmente tenso, sem capacidade de controlar a tensão de modo construtivo. Falta-lhe habilidade para criar amizades e tem dificuldade em ser assertivo sem ficar violento.
· Um agressor acredita que a sua angústia emocional é causada por factores externos. Justifica os seus comportamentos com: tensão, comportamento da companheira, “dia mau,” álcool, falta de sexo, ou outros factores. Culpa os outros e não assume responsabilidade pelas ações que pratica. Freqüentemente atribui aos outros um comportamento hostil, ou imagina provocações que não aconteceram.
· Um agressor pode ser agradável e encantador entre períodos de violência e pode parecer muitas vezes ser uma “pessoa agradável” para estranhos. Pode parecer ter dupla personalidade e/ou evitar repugnar conflitos.
· Um agressor acredita que o sucesso do relacionamento é da responsabilidade da companheira – se a relação não funciona a culpa é dela. Tem também frequentes conflitos com a sua companheira sobre diversas temáticas, tais como, divergências sexuais, profissionais, assuntos familiares, muitas vezes sobre cuidar dos filhos.
Sinais de advertência sobre o comportamento de um agressor
Os seguintes sinais normalmente aumentam a probabilidade do abuso e podem servir como pistas a potenciais agressões:
· Pode ter crescido numa família violenta ou repressora. Pessoas que experimentaram a violência, foram reprimidas, ou testemunharam situações abusivas no lar quando crianças, crescem aprendendo a ver a violência como um comportamento normal e aceitável.
· Pode apresentar tendência a usar violência para resolver seus problemas. Um jovem que tem antecedentes de entrar em brigas ou que gosta de agir de forma violenta, provavelmente irá agir do mesmo modo com a esposa (ou companheira) e com os filhos.
· Os agressores têm tendência a agir agressivamente mesmo diante de pequenos problemas e frustrações e têm um temperamento que os leva a agir impensadamente.
· É frequente abusar do uso do álcool e de outras drogas.
Há uma ligação forte entre violência doméstica e problemas com drogas e álcool, mas estes fatores isoladamente não explicam a ocorrência da agressão. Nem todos os dependentes químicos são agressivos. Por vezes são as vítimas a refugiar-se na dependência, o que agrava o problema. Freqüentemente, um agressor tenta justificar o seu comportamento dizendo que “eu não teria feito isto se não estivesse bêbado.”
· Normalmente tem idéias definidas mais ou menos assumidas sobre o que um homem deveria ser e o que uma mulher deveria ser. Freqüentemente, os agressores têm uma ideia fantasiosa da vida. Pensam que as mulheres têm um único papel na vida: ser dependente, submissa, complacente; e os homens, também um único papel: ser chefe, tomar decisões, dominar, ser macho.
· Tem ciúmes de outras pessoas do rol de amizades da companheira (incluindo os amigos e familiares, masculinos ou femininos). A maior parte das vezes os agressores sofrem de intenso ciúme, quase paranóia, por vezes disfarçado no início do relacionamento, que pode conduzir ao isolamento da vítima. Ele quer saber onde a companheira vai, a que horas, com quem se foi encontrar. Um agressor acusará frequentemente a sua companheira de se exibir ou tentar conquistar outros homens.
· Tem acesso a armas de fogo, facas, ou outros instrumentos letais. Os agressores falam muito em usar armas contra as pessoas e ameaçam usá-las em caso de vingança.
· Tenta ter poder total sobre o relacionamento do casal e espera que sua companheira siga suas ordens e conselhos. Ele enfurece-se se a companheira não cumprir seus desejos e se não for capaz de prever o que ele deseja. Um agressor não pensa que os pontos de vista de outras pessoas também são importantes. Não aceita acordos. Um agressor pode até tentar decidir sobre o vestido da vítima, maquilhagem, penteado, escolha de amigos, etc.
· Pode apresentar extremos de altos e baixos nos comportamentos, quase como se fosse duas pessoas diferentes. Os agressores são freqüentemente extremistas, ora extremamente carinhosos, logo depois extremamente cruéis. O agressor é quase sempre amoroso diante da família e dos amigos, e um monstro quando a sós com sua companheira.
· Justifica de forma errada a sua agressão, procurando a culpa nos outros. Os agressores frequentemente, consciente ou inconscientemente, tentam culpar outras pessoas ou acontecimentos sem qualquer relação com o problema. Nada do que acontece é culpa dele.
· O agressor começa sempre por ser agressivo verbalmente e/ou mentalmente mesmo quando existe violência física.
Ele precisa de baixar a auto-estima dela de tal forma que ela tolere as agressões. Isto começa frequentemente com o agressor tentando diminuí-la nas pequenas coisas que a sua companheira diz ou faz, até que ela se sinta tão insignificante que ache não ser nada sem a ajuda dele e que ninguém iria querê-la se ele a abandonasse.
Algumas das tácticas para exercer poder e controle que o agressor utiliza são:
-Envergonhar ou troçar da companheira na frente dos amigos dela ou familiares;
-Diminuir a importância das realizações ou metas de vida da companheira; fazê-la sentir-se como se não pudesse tomar decisões;
-Usar intimidação e ameaças para ganhar a complacência da companheira;
-Dizer-lhe que ela nada seria sem ele;
-Culpá-la pelo modo como ele se sente ou age;
-Pressioná-la sexualmente para atos que ela não está disposta a realizar;
-Fazê-la sentir que não há outra solução a não ser no relacionamento de ambos;
-Impedi-la de fazer coisas que ela deseja – como passar tempo com a família e amigos.
Cumulativamente, estas táticas de poder e controle têm os seguintes efeitos sobre a vítima:
· Fazem com que ela se sinta assustada sobre como ele irá agir.
· Pede desculpas a outras pessoas pelo comportamento do companheiro.
· Acredita que poderá ajudá-lo a mudar, mudando primeiro seu comportamento.
· Acha que não deveria fazer nada que cause conflito entre o casal, ou que deixe o companheiro enfurecido.
· Acredita que, seja o que for que ela faça, ele nunca estará contente com ela.
· Faz sempre o que seu companheiro quer que ela faça em vez de fazer o que ela gostaria de fazer.
. Continua a viver com ele, porque tem medo do que ele faria se ocorresse a separação.
Diante de tais factos, fica a pergunta:
E se fosse consigo? Ou com a sua filha, a sua irmã, a sua mãe…”
Texto Adaptado por Juliana Paim
Psicóloga (Casa Abrigo/ DF)